sábado, 14 de julho de 2007

A Lição do Louco

A Lição do Louco


Lisboa, Av de Roma, junto à Praça de Santo António, fim de tarde .
A rua está movimentada e cheia de pessoas que saem do emprego e apressadas dirige para os transportes ou para os seus veículo particulares.
No passeio ficou esquecido um pequeno cubo de pedra, certamente por algum calceteiro que por ali andou fazer a manutenção.
Passam meninas de mini-saia e óculos no alto da cabeça tropeçam e esboçam um sorriso enjoado.
Passam cavalheiros de fato e gravata, pasta de cabedal na direita e cigarro na mão esquerda, tropeçam e soltam uma imprecação em voz baixa, como mandam as regras da boa educação.
Passa um grupo de jovens, vestindo «jeans» de marca e ténis não menos famosos, um deles tropeça , não se conteve e …. «f………..»
Passam duas senhoras idosas de cabelos cor da neve, e uma delas tropeça, valeu-lhe a bengala preta de castão de prata e :-« ai Jesus!! que ia caindo, não há direito de deixarem este calhau por aqui».
Seguem-se duas adolescentes de mini-saia de ganga ás franjinhas, mostrando umas ás outras os SMS dos namorados, e vai uma telas tropeçou e deixou mesmo cair o telemóvel, esta não se conteve e grita mesmo ,«f………..» «c………..», de tal modo que até as velhinhas olharam para trás.
«Olhar de Vento» ia-se divertindo gozando o panorama, e eis que se aproxima um Sem-Abrigo dos muito que vagueia pela cidade.
Apesar de um fim de tarde quente, envergava um sobretudo ensebado de dormir com ele pelos cantos, calçava sapatos dois ou três números acima e falava sozinho abanando a cabeça e gesticulando alegremente com as mãos.
E sabem o que faz o Sem-Abrigo?
Parou a cerca de um metro fitando a pedra e olhando simultaneamente um canteiro que fica ao lado do passeio, desfere-lhe um pontapé certeiro e violento de tal modo que pedra e sapato foram parar dentro do canteiro.
Apanhou o sapato enfiou o pé dentro dele e continuo o seu caminho gesticulando e abando a cabeça.
Ao digam lá, se o «louco» deu ou não deu uma lição àqueles que se dizem ajuizados.
Se todos nós déssemos um pontapé nas pedras que se nos deparam pelo caminho e saíssemos deste de vida acomodatício, os caminhos da vida estariam bem mais agradáveis de caminhar,

Olho de Vento
2007-05-06

Lisboa, Av. da República, Campo Pequeno junto ao acesso do Metro.
Uma pobre Mulher, aninhada no passeio e encostada ao muro pedia esmola com um latinha na sua frente.
Cena infelizmente banal em lugares movimentados da nossa cidade.
Mas «Olhar de Vento», não se limitou a deixar cair uma moeda de 50 cêntimos.
É eu lhe causou impressão o facto da Mulher cobrir de tal modo o rosto com um lenço que se tornava impossível vê-la.
Baixou-se e perguntou:
-Porque tem o rosto tapado desse modo? Gostava de a ver.
Respondeu em voz sumida ao mesmo tempo que puxava mais o lenço para baixo:
-Dói a cabeça.
Seguiu o seu caminho sem mais insistência, mas não ficou convencido e a dúvida de «Olhar de Vento» é se a dor daquela Mulher era na cabeça ou na alma, pela vergonha de estar ali a mendigar.

Olho de Vento

A Mãe Perdiz

2006-08-15

Hora da sesta sol a pique, uma estrada municipal com pouquíssimo movimento ladeada por terras de restolho onde se havia já ceifado o trigo.
A estrada é estreita é uma recta e o asfalto foi renovado «Olho de Vento» rodava então a 80 Km/hora.
Nada de especial se não fora uma patrulha da GNR que seguia a umas centena de metros à minha frente, ter encostado e com os quatro piscas ligados, me fazer sinal para parar.
Surpreso coma atitude das autoridades mas tranquilo encosto à berma, abri a porta e saí do carro.
Um dos guardas sorri, e gestualmente sem falar aconselha-me calma.
Não foram precisas palavras pois de imediato percebi o que se estava a passar.
Era nem mais nem menos que uma mãe perdiz com um numeroso carreiro de perdigotos a traz de si que atravessava a estrada.
Bela imagem, muito rara, mas que já algumas vezes tinha presenciado.
Para quem não sabe, fique agora a saber que uma perdiz com filhotes, nunca atravessa um estrada ou caminho sem parar na berma alguns minutos e certificar-se de que o pode fazer em segurança.
Foi o que aconteceu ali, a Brigada vinha atenta viu a perdiz na valeta espreitando a estrada, e avisadamente resolveram parar não só para ver o espectáculo mas para prevenir que qualquer condutor mais apressado e menos atento molestassem aquela maravilhosa e rara ninhada de perdigotos muitos jovens ainda.
Belo exemplo nos dá estas «mães perdizes».
Quantas vezes vemos n a atravessar artérias movimentadas quando levam crianças pela mão ou empurram um carrinho com bebe?

Olho de Vento


O pombo de asa ferida

2007-07-12

Lisboa , Quinta do Morgado.
Um pombo de asa ferida fica na faixa de rodagem.
Alguns condutores circulam a alta velocidade ignorando totalmente a sua presença e só não é esmagado porque o desgraçado está sobre o tracejado, outros fazem desvios bruscos para não o pisarem.
Porém um condutor parou, acende as luzes de emergência, sai do veículo e tenta enxotar a ave para fora do alcatrão onde ficou em segurança.
Era um sexagenário de cabelos grisalhos.
Aos olhos de muitos pode isto ser um acontecimento banal que não merece de qualquer atenção, mas outro tanto não aconteceu com o «Olhar de Vento», e explica-se porquê.
Pombos existem aos milhares na cidade e até os serviços que cuidam do ambiente tem usado produtos químicos para os esterilizar e assim controlar a sua população.
Perguntar-me-ão certamente:
Então se assim é para quê preocupar-se com mais um pombo ou menos um?
De facto assim é, mais um ou menos um pombo não tem qualquer importância.
A importância, está isso sim no comportamento ena sensibilidade daquele condutor.
Ele condoeu-se com o facto do pombo vir a ser esmagado e achou que se o colocasse fora de perigo teria ainda chance de vida por mais algum tempo e a morrer que morresse normalmente como morre tudo o que nasce.
Por se tratar de uma rara excepção, «Olhar de Vento »,registou.

Olho de Vento